Árbitro Brasileiro participa de Olimpíadas de Tóquio e faz história
A competição de Taekwondo nos Jogos Olímpicos de Tóquio já terminou, porém além das belas apresentações que tivemos, e títulos já esperados por alguns representantes e inesperados de outros, tivemos a participação inédita de um Árbitro Brasileiro no quadro de árbitros das Olimpíadas na modalidade Taekwondo.
Luis Drosghic Mendoza, diretor de arbitragem da Confederação Brasileira de Taekwondo – CBTKD, é também nosso vizinho de estado, natural e residente em Mato Grosso. Árbitro nacional há 21 anos e internacional desde 2012, já atuou em competições importantes e expressivas no cenário mundial como sete campeonatos mundiais, Jogos Pan-Americanos, Campeonatos Pan-Americanos e etapas de Grand Prix’s, além de etapas do processo seletivo Olímpico.
O interesse do cuiabano Mendoza pelo taekwondo surgiu ainda pequeno, quando, em 1986, a vizinhança na Vila Militar o apresentou a arte marcial. Trinta e quatro anos depois, faixa preta 6º Dan, mestre e árbitro internacional do esporte, conquista o tão sonhado e objetivo de ser árbitro em Jogos Olímpicos.
O caminho até aqui foi longo. Antes de se encontrar no taekwondo, ele chegou a fazer judô com o pai de David Moura e também karatê.
As aulas na Vila Militar acabaram quando Luis começou a estudar eletrônica na Escola Técnica Federal (hoje Instituto Federal). Foi nessa época que ele conheceu o mestre Kwang Sooshin, com quem aprendeu boa parte do que sabe.
“Eu nunca parei. Dei uma pausa quando fui pra São Paulo, mas também procurei uma academia por lá, e voltei em 96”.
Na capital paulista, ele se formou em física. De volta a Cuiabá Luis se tornou faixa preta em 1997, após onze anos de treino, e no ano seguinte, após fazer um curso com a Confederação Nacional, se tornou árbitro nacional. Sua primeira competição foi em 2000, em Brasília.
“Eu viajava pelo Brasil três, quatro vezes por ano para os principais campeonatos, além de participar das seletivas mato-grossenses”.
Foram mais de doze anos até se tornar árbitro internacional. Para chegar lá, o cuiabano precisava – obviamente – ser árbitro nacional, possuir faixa preta no mínimo 4º Dan, ter domínio da língua inglesa, conhecimento sobre o esporte, pagar a taxa do curso e conseguir uma assinatura do presidente da Confederação Nacional.
Em 2013, então, ele passou a ser da Federação Mundial de Taekwondo, e participou da primeira competição internacional em Lima, no Peru. De lá pra cá, já foi para os Estados Unidos, Canadá, México, Costa Rica, Argentina, Bolívia, Paraguai, Reino Unido, Turquia, Azerbaijão, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul e Filipinas.
O sonho das Olimpíadas
Assim que se tornou árbitro internacional, Mestre Mendoza começou a se preparar para realizar o sonho de trabalhar nas Olimpíadas.
Em 2019 quando Luis Mendoza e o mestre Marcelo Resende foram participar do camping olímpico, que seria o primeiro passo para participar de uma olimpíada, no Grand Prix de Moscou, terminava metade dos classificados e começaram os classificatórios. Mendoza participou do classificatório Africano no exato momento quando começou a pandemia. Com a postergação dos Jogos Olímpicos de Tóquio, as próximas etapas de qualificatório ficaram a cargo de novas datas, quando retomado, as classificatórias foram na Bulgária e mediante a situação pandêmica do Brasil foi proibido a entrada de brasileiros na Bulgária impossibilitando a entrada de Mendoza nas classificatórias. Mestre Marcelo pode participar da etapa asiática que foi realizada na Jordânia, novamente Mendoza não pode participar.
Já nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, Mendoza já havia tentando participar, porém ao curto período de adaptações, ele não foi selecionado e apenas pode participar como voluntário. Segundo ele, foi um ciclo desanimador, mas isso lhe deu mais força para que nas próximas Olimpíadas seu sonho de arbitrar um evento desse porte fosse realizado. O processo de arbitrar uma competição deste nível é muito mais exigente que o normal e requer experiências em treinamentos e competições internacionais. Nas Olimpíadas de Tóquio os árbitros podem comprimir qualquer função designada desde lateral, central, operador e vídeo replay, então a experiência requerida é total. Foi necessário a participação em eventos qualificatórios como GP da Bulgária e no GP final, em Moscou.
A Federação Mundial resolveu escolhê-lo mediante a todas as etapas anteriores. Mendoza continuou seu aprendizado intensificando seus estudos, mas por vias tecnológicas. Assistiu diversos vídeos preparando sua mente e adquirindo novos conhecimentos. Houveram vários treinamentos online com o chefe da arbitragem da Federação Mundial, entre os árbitros já selecionados. Diversas exigências de documentação e exames PCR foram feitos, e na chegada em Tóquio tiveram dois dias de treinamentos antes do começo dos Jogos.
Arbitrando em Tóquio
Algo muito interessante de ressaltar é que no total só existiam 4 árbitros da região pan-americana. O árbitro de um continente nunca participa de uma luta onde um atleta do mesmo continente está competindo, muitas lutas aconteceram devido a situação geopolítica e na maioria delas deveriam ser árbitros pan-americanos arbitrando. Dessa forma, Mendoza arbitrou as mais complexas lutas, sendo elas duas finais importantes, 49 kg feminino e 68 kg masculino, onde seu desempenho como árbitro foi muito elogiado pela atenção aos detalhes durante as lutas.
“Estar participando dessa Olimpíada é um divisor de águas. Agora, por exemplo, eu passo a ser referência. Então, eu preciso ter muito cuidado com as minhas atitudes e minhas condutas, coisa que eu já trabalho tranquilamente. Também um divisor de águas no sentido da experiência que adquiri com toda essa participação. Tenho que passar isso adiante, para novas e atuais gerações de árbitros, no sentido de que eles possam entender melhor essa responsabilidade, já que eu cheguei até o topo, e mostrar para eles qual é o melhor caminho, caso um deles deseje passar por todo esse sacrifício e alcançar esse êxito que cheguei”, explica Mendoza.
Por dia 40 a 44 combates uma média de 15 deles Mendoza arbitrou, além de outras funções normais de árbitro. No último dia ele teve a experiência de conhecer pessoalmente o chefe de arbitragem mundial e ser elogiado por seu excelente desempenho, recebendo o título de “mais usado”, pois foi a primeira vez na história dos Jogos Olímpicos que duas finais foram feitas pelo mesmo árbitro e brasileiro, e Mestre Mendoza teve essa honra de fazer história nos Jogos Olímpicos.
O papel do árbitro nas Olimpíadas é fundamental, pois é ele que avalia os acontecimentos, sendo o cronômetro (Shi-gan) e também considera visualmente o atleta, caso haja necessidade de atendimento médico, declara a mesa marcadora (Kye-Shin) tempo médico. Mas pode acontecer de ele pedir o tempo médico direto, devido a gravidade da situação, até para que o atendimento seja realizado o mais rápido possível, minimizando tempo de lesão e visando a proteção da integridade do atleta.
Em Mato Grosso do Sul
Mestre Mendoza já esteve em nosso estado através do convite do Presidente da Federação de Taekwondo de Mato Grosso do Sul – FTKDMS, Mestre Fábio Costa para ministrar um Curso de Arbitragem dentro do Campeonato Estadual de Taekwondo. O evento foi o maior sucesso com total aceitação e interação dos participantes.
Dali em diante, Mestre Fábio sempre encontrava Mestre Mendoza em campeonatos dentro e fora do Brasil, e Mendoza constantemente se mostrava humilde, prestativo e de fácil acesso.
A Equipe Fábio Costa de Taekwondo fica imensamente feliz com os resultados obtidos pelo Mestre Luis Drosghic Mendoza e pelo sonho conquistado em arbitrar nos Jogos Olímpicos na modalidade Taekwondo. Sabe como o caminho é árduo, porém foi almejado e com grande êxito. Nós brasileiros fomos demasiadamente bem representados por nosso vizinho de estado Mendoza, cuiabano batalhador e, com certeza, digno de todo reconhecimento e merecimento de suas vitórias. Parabéns Mestre!
Fontes: CBTKD e Olhar conceito